Consoante o Banco de Portugal (BdP), o número de novos contratos de crédito na rubrica referente a “linhas de crédito” registou um aumento de 12,3% em janeiro deste ano face ao período homólogo de 2016. Esta foi uma tendência que acompanhou o crescimento do crédito ao consumo em 2016, o que significa que é provável que, até pela rapidez do financiamento, cada vez mais portugueses adiram às linhas suplementares para aumentarem ou libertarem o plafond do cartão de crédito.
Existem alguns cartões de crédito no mercado que dão acesso a uma linha de crédito adicional (designada por “linha suplementar”). Mas cada linha contém em si caraterísticas diferenciadas: TAN e TAEG; montante mínimo da compra necessário; período de crédito sem juros.
Obter crédito rápido em Portugal não é fácil
Em Portugal, um processo de crédito demora, em média, duas semanas desde o momento em que o cliente solicita até receber o financiamento. O mesmo não acontece noutros países europeus, como é o caso da Finlândia onde, por exemplo, todo este procedimento costuma demorar cerca de apenas quatro horas. O mesmo pode suceder na Bélgica e na Dinamarca.
Esta morosidade poderá ser justificada, por um lado, pela dependência dos consumidores do banco com o qual já possuem uma relação há alguns anos (o que pode levar até, consequentemente, a aceitar taxas de juro que não são as mais favoráveis do mercado) – e, mesmo assim, o processo pode demorar até cinco dias entre o pedido e a receção do financiamento.
Por outro lado, mesmo que o consumidor procure outras soluções que poderão ser melhores para si em termos de custos, a verdade é que terá de partilhar muitos documentos para que as instituições financeiras possam analisar o nível de risco e tratar de todo o processo. Entretanto, são mais 15 dias que decorrem até se obter o dinheiro.
Quanto se trata de despesas de saúde urgentes ou de uma reparação no motor do carro, quando este é o único meio de transporte que se tem para se deslocar para o emprego, por exemplo, o mais provável é que o consumidor não disponha de tanto tempo.
Que alternativas restam?
E se fosse possível dispor de outras opções mais rápidas no mercado? Na realidade, existe uma solução relacionada com as chamadas linhas de crédito “dentro” dos cartões de crédito.
As linhas de crédito inserem-se no designado crédito revolving, que é referente a todos os empréstimos ao consumo que possuem um limite máximo de crédito e um prazo indeterminado e que se distinguem assim do crédito ao consumo tradicional.
Existem alguns cartões de crédito que possuem linhas de crédito suplementares. Isto significa que, para além do empréstimo sem juros até um determinado número de dias, estes cartões permitem ainda aceder a um empréstimo complementar que permite pagar compras de forma faseada com uma determinada taxa de juro.
O que acontece quando o cliente acede à linha suplementar para ter acesso aos pagamentos faseados através do seu cartão de crédito é que esse montante pedido pelo cliente será deduzido ao saldo em dívida do seu cartão e, desta forma, o plafond do cartão de crédito é libertado para outras operações.
É de salientar ainda que as linhas suplementares distinguem-se dos pagamentos fracionados que praticamente todos os cartões do mercado permitem e que dizem respeito, pura e simplesmente, à possibilidade de pagar as compras em prestações durante alguns meses.
Um dos maiores benefícios da linha de crédito reside no facto de acelerar o processo de aprovação do financiamento, uma vez que o banco já possui todas as informações do cliente, o que faz com que possa até fazer a aprovação imediata, tornando-se viável receber o dinheiro na conta em menos de 48 horas. A flexibilidade e a rapidez são indubitavelmente a grande mais-valia.
Acaba por ser uma forma muito eficiente de obter crédito, porque permite obter uma quantia de reserva sem ser necessário passar por um processo de aprovação como se fosse a primeira vez
Qual a oferta do mercado para estender o plafond do cartão de crédito?
Para uma noção da oferta, que não é abundante, de cartões de crédito em Portugal que permitem aceder a uma linha que complementa o seu plafond mensal, quais as taxas de juro que são praticadas e as condições de acesso a essa linha, foi elaborada a tabela abaixo:
Produto | Período de crédito sem juros | Linha de crédito suplementar | Mínimo da compra para aceder à linha suplementar | |
---|---|---|---|---|
TAN | TAEG | |||
CGD Caixa IN | 42 dias | Até 6 meses: 12,70% | 12 a 48 meses: 12,70% | Com taxa até 6 meses: 50€ Com taxa 12 a 48 meses: 250€ |
Barclaycard Flex | 50 dias | 12 a 96 meses: 15,55% | n.a. | |
Crédito Especial Millennium bcp | n.a. | 9,3% | 150€ | |
Cartão de Crédito ActivoBank | n.a. | 9,3% | Não referido |
É possível depreender que uma linha de crédito suplementar que permite alargar o plafond do cartão de crédito pode ter uma TAEG a oscilar entre 13% e 17% e TAN que varia entre 9,3% e 15,55%. Normalmente existe também um valor mínimo da compra necessário para aceder à linha.
Tanto o Barclaycard Flex como a Caixa Geral de Depósitos disponibilizam a mesma TAEG (17%), sendo que o Millennium bcp e o ActivoBank oferecem 13%.
Tanto no caso do Barclaycard Flex como da CGD, a TAEG praticada é precisamente a mesma que é disponibilizada para o fracionamento da compra em 12 meses. Mas o mesmo não se verifica no caso do Millennium bcp: a opção suplementar de crédito especial possui uma TAEG de 13%, ao passo que, por exemplo, a do cartão de crédito Millennium bcp Classic é mais elevada, no valor de 13,9%.
No caso da modalidade Crédito Especial do Millennium bcp, esta é, assim, uma opção que dá para associar aos cartões de crédito desta instituição financeira, bastando, para tal, que o cliente a solicite, permitindo-lhe criar o seu próprio plano de pagamentos e ter uma taxa de juro mais acessível para transações que ultrapassem o plafond do cartão de crédito.
“Todavia, mesmo que a taxa de juro aplicada pela linha suplementar seja mais elevada do que a do cartão de crédito, em princípio tal só fará diferença na carteira do consumidor se o prazo do empréstimo se estender por muito tempo.
Por exemplo, para um crédito de 3.000 euros com uma TAEG de 17%, o valor de juros que será pago se o mesmo for liquidado em 17 meses (assumindo que o devedor paga um montante fixo de 200 euros todos os meses) será de aproximadamente 349,25 euros.
Já se se alargar o prazo a 41 meses, pressupondo a mesma TAEG, mas assumindo que o montante fixo que o cliente vai pagar por mês é de 100 euros, o valor dos juros aumenta para 904,64 euros, precisamente 61% a mais relativamente aos juros da outra opção. Portanto, a questão poderá nem residir tanto no tipo de crédito que se escolhe, mas no prazo”, argumenta Sérgio Pereira, diretor-geral do ComparaJá.pt.
E ainda que a TAEG da linha de crédito suplementar seja mais elevada, poderá compensar pagar esse valor adicional pela eficiência e rapidez do serviço. Caberá, por isso, a cada consumidor comparar e decidir qual a melhor opção para si.
Ainda assim, ao longo dos anos, a taxa máxima aplicável às linhas de crédito tem vindo a descer, particularmente desde o último trimestre de 2012, altura em que este valor era de 37,3%, sendo que o teto máximo que o BdP fixou para o segundo trimestre deste ano foi de 16,7%. Trata-se da taxa para linhas de crédito mais baixa alguma vez praticada desde que o BdP começou a impor estes limites, o que indica que é a altura ideal para os consumidores disporem desta solução, conclui o responsável da plataforma independente de simulação de produtos financeiros.