Como financiar cuidados de saúde oral?

Face à incapacidade do SNS na prestação de cuidados de saúde oral, as opções de financiamento são várias. Descobre as que existem.

A 20 de março comemora-se o Dia Mundial da Saúde Oral. Para além de as doenças orais se encontrarem entre as enfermidades crónicas mais comuns, o estudo Cuidados de Saúde Oral – Universalização, da Nova School of Business and Economics, confirma que Portugal é o segundo país da União Europeia (UE) com maiores necessidades na área da Medicina Dentária, o que afeta sobretudo as famílias com menores rendimentos. Por este motivo, e assinalando esta efeméride, neste artigo falamos sobre as opções de financiamento existentes para os portugueses poderem cuidar do seu sorriso.

Porque existe a preocupação de financiar cuidados de saúde oral?

Manter uma saúde oral intacta e em bom estado é meio caminho andado para melhorar a autoestima, para além de ser uma questão de saúde pública. Dentro da Medicina Dentária, existem diversas áreas: desde a parte cirúrgica até à Ortodontia, Implantologia, Endodontia, Próteses, passando ainda pela Estética Dentária, Branqueamentos, Higiene e Radiologia Oral. Garantir uma higiene oral cuidada acabará por se refletir muito no bem-estar individual.

Se ao nível dos cuidados de saúde gerais Portugal se encontra bem posicionado face ao resto da UE (somente 5,1% dos portugueses com mais de 16 anos relata ter necessidades de saúde não satisfeitas, conforme o estudo supracitado), o mesmo não acontece com a saúde oral (onde o valor dispara para 18% quando a média europeia é de 7,9%).

O que poderá estar por detrás destes números? Muitas vezes, o maior obstáculo a uma higiene oral salutar encontra-se precisamente na questão financeira. Os tratamentos dentários são caros, o Serviço Nacional da Saúde (SNS) não é abrangente neste campo, havendo falta de dentistas nos cuidados de saúde primários, e, como tal, acabam por não ser acessíveis à população em geral.

Desta forma, o recurso ao financiamento torna-se essencial.

Quais as opções de financiamento que existem?

O célebre “cheque-dentista”

O cheque-dentista foi criado pelo Ministério da Saúde ao abrigo do Programa Nacional de Promoção de Saúde Oral (PNPSO). Consiste na atribuição de cuidados dentários – que podem ser prestados em qualquer consultório ou clínica aderentes – a mulheres grávidas que sejam seguidas no SNS, beneficiários do complemento solidário para idosos utentes do SNS e crianças e jovens com idade inferior a 16 anos.

A partir de março de 2016, esta modalidade passou a abranger igualmente os jovens de 18 anos, crianças com necessidades especiais e utentes portadores de VIH que não fazem tratamentos há mais de dois anos.

Cada cheque vale 35 euros, sendo que o número atribuições por ano é definido pelo Ministério da Saúde consoante a situação dos utentes (os grupos de alto risco podem receber dois cheques-diagnóstico anuais, por exemplo).

O processo é sempre iniciado pelo médico de família. Ainda assim, esta possibilidade não abrange toda a população.

Despesas mais elevadas? Consulta soluções junto do dentista

Recorrendo ao exemplo da família Vicente – em que a mãe teve de colocar quatro implantes, o filho mais velho realizou tratamentos a cáries e o pai teve de fazer uma extração de um dente do siso -, esta precisou de pagar, de uma só vez, cuidados dentários num total de 2.500 euros.

Não tendo acesso ao cheque-dentista e tratando-se de um gasto elevado a ser realizado de uma só vez, os Vicente recorreram diretamente ao seu dentista e obtiveram informações para financiamento junto dele. É sempre útil sondar primeiro as condições do crédito através do consultório para depois compará-las com outras alternativas no mercado.

Existem empréstimos destinados a cuidados de saúde oral urgentes (e cujas taxas de juro e condições costumam ser apelativas), mas estes geralmente apenas financiam acima dos 5.000 euros. Para custos abaixo deste montante, existe a opção de crédito pessoal sem finalidade.

A tabela abaixo apresenta a oferta do mercado por parte de quatro instituições financeiras, para um empréstimo pessoal sem finalidade no valor de 2.500 euros, para um prazo de 24 meses, com um proponente de 46 anos:

Crédito pessoal sem finalidade | 2.500€ em 24 meses

Instituição TAEG TAN Prestação mensal Montante Total Imputado
Millennium bcp 10%7,9% 113€ 2.719€
EuroBic 14,1% 10% 116€ 2.791€
ActivoBank 11,2% 8% 116€ 2.561€
Cofidis 17% 14% 125€ 2.862€
Nota: os valores apresentados incluem o seguro de vida.

Para financiar os seus cuidados dentários, a família Vicente pode escolher uma prestação mensal que varia entre os 113 euros e os 125 euros, sendo que, todavia, o valor que se deve ter em consideração para o custo do crédito é o montante total imputado ao consumidor, que engloba todos os juros e encargos com o empréstimo mediante a Taxa Anual Efetiva Global (TAEG).

Para gastos mais reduzidos, nada como o cartão

Na tabela abaixo consta uma comparação de cartões de crédito por parte de três entidades emissoras: Novo Banco, Santander Totta e Bankinter

Para o valor de 2.500 euros a reembolsar durante 24 meses, se a família Vicente pagasse com cartão de crédito, acabaria por gastar, pelo menos, perto de 100 euros a mais (equiparando apenas as soluções mais acessíveis) do que se financiasse os cuidados de saúde oral com um crédito pessoal sem finalidade.

Cartões de Crédito | 2.500€ em 24 meses

Instituição Anuidade TAEG TAN Limite Seguros incluídosTotal
Novo Banco NB Verde Dual 0€ 10,9%9,1% Não referido Proteção ao crédito + Acidentes Pessoais em Viagem 2.761€
Santander Mundo 123 24€ 13,6% 10% 1.500€ Acidentes Pessoais + Assistência em Viagem + Bagagem + Responsabilidade Civil + Roubo ou Extravio 2.829€
Bankinter Único Gold Free For Life 0€ 17% n/a n/a Assistência Médica de Emergência no Estrangeiro + Assistência ao Veículo + Domicílio 2.918€

Portanto, comparando o montante total de ambas as soluções (crédito pessoal e cartão), na realidade só compensaria esta última opção se os gastos da família no dentista fossem separados temporalmente, até porque haveria sempre a possibilidade de conseguirem pagar dentro do prazo em que não são cobrados juros.

Para valores mais elevados, o montante total do crédito fica mais caro com o cartão que com um empréstimo.

Ainda no âmbito das opções de financiamento existem os seguros de saúde dentária, que geralmente incluem acesso a uma rede de dentistas com a possibilidade de realização de check-ups orais e tratamentos a um preço mais reduzido do que é cobrado normalmente.

Como escolher a melhor solução?

A melhor opção dependerá, obviamente, do caso específico de cada pessoa e, especialmente, do valor dos cuidados de saúde oral. O facto de este tipo de tratamentos ser prestado sobretudo pelo setor privado faz com que o recurso ao financiamento seja, muitas vezes, inevitável.

Desta forma, é primordial comparar os diversos produtos existentes – seja o crédito pessoal sem finalidade, o crédito direcionado para despesas de saúde (mais usado nos casos em que os custos são elevadíssimos – como os de cirurgias de urgência que ascendem aos 10 mil euros, por exemplo) ou o cartão de crédito para gastos faseados – para que possas ter acesso aos melhores cuidados de saúde oral sem arruinar as tuas finanças.

Para concluir, é de salientar ainda que, para este caso específico (um pedido de 2.500 euros a 24 meses), não  se pagará mais de cerca de 270 euros em juros e comissões – o que significa que não vale a pena adiar o investimento em cuidados de saúde oral por causa de juros. No que toca a esta área da Medicina, quanto mais cedo se resolver o problema, mais dinheiro podes poupar no futuro.


Rafael Outeiro
Rafael Outeiro
Content Writer