A maioria das agências imobiliárias só se dedica ao planeamento estratégico no início do ano. Mas, em janeiro, o tempo já escasseia, a agenda está cheia de urgências e a equipa precisa de direção e não só de intenções. É agora, nos últimos meses de 2025, que se deve construir a base do próximo ano.
Planear com antecedência não é um luxo, mas sim uma decisão de liderança. Significa entrar em janeiro com metas claras, equipas alinhadas e prioridades bem definidas. Significa começar a executar, e não a improvisar.
Neste artigo, vou explorar por que razão o planeamento antecipado faz toda a diferença numa agência imobiliária, o que deve ser incluído nesse plano, como os KPIs de 2025 ajudam a traçar o caminho para 2026 e como envolver toda a equipa nesse processo.
Porquê planear agora e não em cima da hora?
O início do ano parece, à primeira vista, o momento natural para definir metas e estratégias. Mas, na prática, janeiro é o pior mês para pensar com clareza.
O ano começa a correr. Há campanhas a lançar, novos consultores a integrar, leads acumuladas para reativar, férias para gerir e decisões pendentes do final do ano anterior. Tudo isto ocupa espaço na agenda e na cabeça de quem lidera.
Quando o planeamento é adiado para o arranque do ano, o mais provável é que se perca o primeiro trimestre com ajustes, reuniões dispersas e decisões reativas, em vez de começar a executar de forma focada logo em janeiro.
Por outro lado, planear no último trimestre do ano anterior traz vantagens muito concretas:
Permite definir prioridades antes do caos do início do ano;
Dá tempo para envolver a equipa e preparar a transição;
Facilita a negociação com parceiros e fornecedores para o novo ano;
Dá espaço para olhar para os dados com calma e tomar decisões estratégicas;
Evita que 2026 comece com “mais do mesmo”.
O planeamento antecipado é uma ferramenta de antecipação e foco. E as agências que o fazem de forma consistente tendem a crescer de forma mais estruturada e sustentável.
O que deve ser planeado numa agência imobiliária?
Planear não é apenas definir um objetivo de faturação ou pensar em quantos consultores queremos recrutar. O verdadeiro planeamento estratégico vai mais longe: liga visão a execução, e transforma intenções em ações concretas.
Eis os principais pilares que uma agência imobiliária deve incluir no seu plano para 2026:
Estratégia comercial
Que metas queres atingir em 2026? Vais apostar na angariação em exclusivo? Em que zonas? Com que tipo de cliente? O planeamento deve prever foco geográfico, ações táticas, ferramentas de prospeção e metas mensais claras.
Plano de marketing e comunicação
Que campanhas vais fazer? Quais os canais prioritários (digital, redes sociais, porta a porta, parcerias)? Que investimento vais alocar? Um calendário de marketing definido no ano anterior evita decisões apressadas e melhora os resultados.
Formação e desenvolvimento da equipa
Que competências precisas de reforçar na tua equipa? Que gaps foram identificados em 2025? Quem precisa de formação técnica, comercial ou comportamental? E quem pode, ou deve, dar o salto para uma posição de liderança?
Recrutamento e retenção
Quantos consultores queres recrutar? Que perfil procuras? Que processos vais usar para os atrair, integrar e manter motivados? A definição de um plano de recrutamento com metas realistas e ajustadas à tua capacidade operacional é essencial.
Organização interna e eficiência
Há processos que precisam de ser otimizados? Ferramentas mal aproveitadas? Comunicação interna pouco eficaz? Rever a operação ajuda a ganhar tempo e produtividade no ano seguinte.
Posicionamento no mercado
A tua agência é reconhecida na zona como referência? Precisas de reforçar autoridade digital, presença local ou reputação? Um plano de posicionamento ajustado ajuda a atrair leads e talento.
O papel dos KPIs no planeamento
Fazer um plano para 2026 sem olhar para os dados de 2025 é como navegar sem mapa. Os KPIs (indicadores de performance) não servem apenas para controlar, servem também para decidir.
Antes de definires metas para o próximo ano, é essencial fazeres uma leitura cuidada do que os números atuais te dizem:
O que correu bem em 2025?
Quais os canais de angariação mais eficazes?
Qual a taxa de conversão de reuniões em contratos?
Quantas leads resultaram em negócios concretos?
Houve crescimento sustentado ou apenas picos isolados?
Onde estão os pontos críticos?
Há zonas com pouca penetração?
A equipa está desequilibrada em termos de produção?
Os tempos médios entre angariação e venda estão a aumentar?
Estas respostas não surgem de perceções mas sim de dados. E é com base neles que se devem tomar decisões estruturais.
Além disso, o planeamento para 2026 é também uma oportunidade para rever os próprios indicadores. Há métricas que já não fazem sentido? Há KPIs que precisas de passar a monitorizar? Por exemplo:
Indicadores de retenção de consultores;
KPIs de engagement digital (para avaliar o impacto da marca);
Taxa de formação versus performance;
Nível de atividade por consultor (para prever potenciais quebras ou crescimento).
Planeamento e KPIs andam de mãos dadas. Os dados mostram onde estás, mas também ajudam a definir como e para onde vais crescer.
Como envolver a equipa no plano
Um plano que é feito apenas “na direção” e depois comunicado à equipa já em janeiro está condenado a falhar ou, pelo menos, a não gerar o impacto desejado. As equipas não executam com entusiasmo aquilo que não ajudaram a construir.
Por isso, o último trimestre do ano é também o momento ideal para envolver líderes intermédios, staff e até consultores sénior no processo de planeamento de 2026.
Porque envolver a equipa?
Aumenta o compromisso com os objetivos definidos;
Ajuda a identificar necessidades reais de quem trabalha no terreno;
Gera ideias práticas para melhorar processos;
Dá voz a quem está todos os dias em contacto com clientes, leads e obstáculos reais.
Como fazer isso na prática?
Realiza reuniões de diagnóstico com diferentes áreas (comercial, marketing, coordenação, staff);
Pede feedback sobre o que funcionou e o que não funcionou em 2025;
Cria momentos de co-criação de soluções e objetivos: metas por zona, indicadores por função, sugestões de formação.
Define em conjunto quem é responsável por quê em 2026, isso clarifica papéis e aumenta o sentido de responsabilidade.
Envolver a equipa não significa abdicar da liderança do processo. Significa usar a inteligência coletiva para tomar melhores decisões e garantir que o plano nasce com raiz dentro da própria operação.
Por onde começar? Um passo a passo para planear com clareza
Saber que é preciso planear não chega, é preciso saber por onde começar. E a verdade é que, com tanta informação e pressão operacional, muitos líderes ficam bloqueados perante o planeamento anual.
Se é o teu caso, aqui fica um guia simples e prático para começares o plano de 2026 com método e direção:
1. Marca um momento formal para planear
Não tentes fazer este exercício "entre tarefas". Define um dia ou um bloco de horas sem interrupções, e compromete-te com ele como se fosse uma reunião com um cliente importante, porque é.
2. Começa com perguntas simples e diretas
Escreve à mão ou em digital:
O que correu bem em 2025?
O que não correu bem e porquê?
O que quero manter, melhorar, parar ou começar
Este primeiro diagnóstico solta o pensamento e ajuda-te a ganhar clareza.
3. Reúne os dados que já tens
Pega nos teus KPIs de 2025: número de transações, faturação, crescimento da equipa, fontes de leads, produtividade por consultor, taxa de retenção, etc. Os dados dizem-te onde estás e onde é possível chegar.
4. Define 3 a 5 prioridades estratégicas para 2026
Exemplo:
Reforçar angariações em exclusivo numa zona específica;
Melhorar a retenção de talento júnior;
Reduzir tempo médio de venda;
Aumentar volume de leads orgânicos.
Prioridades não são tarefas, são objetivos que te obrigam a alinhar decisões e recursos.
5. Identifica os recursos e ações necessários
Para cada prioridade, pergunta:
De que recursos preciso (tempo, pessoas, investimento)?
Que formações são críticas?
Que mudanças operacionais são necessárias?
Que papel quero que cada membro da equipa desempenhe?
6. Cria uma folha de planeamento simples
Não precisas de um software caro. Um Excel, uma folha A4 ou uma ferramenta de gestão já usada na agência pode servir. O importante é ter:
Objetivo → Ação → Responsável → Prazo → KPI de acompanhamento
7. Partilha, valida e ajusta com a equipa
Não guardes o plano na gaveta. Mostra-o. Ajusta-o com base no feedback. Define momentos de revisão ao longo do ano. Planeamento sem execução partilhada é apenas intenção.
Conclusão prática
Planeamento não é um exercício teórico, é uma ferramenta de liderança. E no setor imobiliário, onde os resultados dependem tanto de consistência como de agilidade, começar o ano com direção clara faz toda a diferença.
Esperar por janeiro para decidir o que fazer é desperdiçar o primeiro trimestre. É começar a correr sem saber o caminho. Pelo contrário, quem usa o último trimestre do ano para planear entra em 2026 com metas bem definidas, equipa alinhada, indicadores prontos a medir e foco total na execução.
Por isso, agora que o ano está a fechar, coloca as perguntas certas:
Que resultados alcançámos em 2025?
Que lições podemos tirar?
Que formação faz falta à nossa equipa?
Que objetivos são ambiciosos, mas realistas?
Que processos precisam de mudar?
Planear é antecipar. E antecipar é liderar.