A expressão "liberdade financeira" tem ganho visibilidade em vários contextos — desde o planeamento pessoal até à educação financeira. Mas o que significa, na prática, e porque continua a ser um tema recorrente?
Neste artigo, explicamos o essencial sobre este conceito, o que está na sua base e que fatores são habitualmente associados à sua concretização.
O que é a liberdade financeira?
Não existe uma definição única de liberdade financeira, mas o termo costuma referir-se à capacidade de uma pessoa cobrir as suas despesas de vida através de rendimentos gerados por investimentos ou património, e não pelo trabalho ativo.
Na prática, este conceito assenta em dois pilares fundamentais:
Por um lado, que a pessoa esteja a gerar rendimentos a partir dos seus investimentos — rendimentos que podem ser de natureza ativa, passiva ou uma combinação de ambos.
Por outro lado, que esses rendimentos sejam suficientes para viver exclusivamente deles, sem necessidade de se dedicar a outras atividades remuneradas.
De onde vem este conceito?
A popularização da liberdade financeira está associada, entre outros, aos livros de Robert Kiyosaki e ao movimento FIRE (Financial Independence, Retire Early). Este defende uma combinação entre hábitos de vida simples e uma gestão eficiente da poupança, com o objetivo de alcançar a independência o mais cedo possível.
Assim, a liberdade financeira pressupõe que os rendimentos obtidos são superiores às despesas de vida, tornando o trabalho uma opção e não uma obrigação.
A lógica por trás da liberdade financeira pode resumir-se assim:
Aforro + rendimentos de investimentos > despesas regulares
Embora seja um conceito fácil de entender, na prática exige esforço, consistência e disciplina. Não é algo que se atinge a curto prazo, pelo que começar o mais cedo possível pode ser importante para construir uma base sólida.
Em resumo, a liberdade financeira permite viver sem depender de rendimentos do trabalho, beneficiando de rendas, juros ou outros retornos gerados por investimentos e decisões financeiras tomadas ao longo do tempo.
Quais são os principais benefícios associados à liberdade financeira?
Existem diversas vantagens referidas por quem procura — ou já alcançou — maior autonomia financeira. Entre as mais mencionadas, destacam-se três:
Mais qualidade de vida
A ausência de pressão financeira reduz o stress associado às contas do dia a dia, o que pode traduzir-se numa maior tranquilidade e bem-estar. Além disso, permite dedicar mais tempo a atividades que trazem prazer e realização pessoal, como viajar, ler, passear, fazer exercício ou conviver com família e amigos.
Liberdade de escolha profissional
A independência financeira não significa necessariamente deixar de trabalhar, mas sim ter a possibilidade de escolher onde se trabalha e em que condições. Trabalhar por gosto — e não por necessidade — pode tornar a experiência mais gratificante e menos condicionada por obrigações económicas.
Capacidade para lidar com imprevistos
Ter uma base financeira estável permite responder a despesas inesperadas sem recorrer a crédito ou endividamento. Isto pode incluir custos com saúde, reparações ou outras situações não planeadas, reforçando a segurança financeira no dia a dia.
Como alcançar a liberdade financeira?
Para alcançar a liberdade financeira, é essencial ter em conta um conjunto de elementos que, na sua ausência, tornam este objetivo difícil de concretizar.
1. Definir prioridades
O primeiro passo passa por definir claramente algumas prioridades. A lógica base é simples: aumentar a poupança e controlar os gastos.
Só através desse equilíbrio será possível acumular capital suficiente para poder investir e, com o tempo, gerar rendimentos que permitam viver a partir deles. Ao mesmo tempo, o controlo das despesas é essencial para evitar excessos e manter estabilidade.
2. Começar por poupar
Poupar é o ponto de partida. Será necessário dispor de capital para que, ao ser investido, possa gerar rentabilidades. Uma questão frequente é: de quanto dinheiro se precisa para atingir a liberdade financeira? A resposta depende do estilo de vida, das despesas e do nível de independência financeira a que se ambiciona chegar.
Como referência, existe a chamada regra dos 4%, proposta por investigadores norte-americanos. Esta regra sugere que uma pessoa pode deixar de trabalhar quando os seus gastos anuais representam 4% do valor total do seu património investido.
Imaginemos a Carolina, cujas despesas anuais são de 24.000 euros. No seu caso, seria necessário um montante acumulado de cerca de 600.000 euros para gerar esse valor em rendimentos passivos:
600.000€ x 0,04 = 24.000€
Ou, de forma ainda mais simples: multiplicar as despesas anuais por 25 dá uma estimativa do capital total necessário.
Esta fórmula deve ser encarada apenas como orientação — é uma estimativa geral que pode ajudar a ter uma ideia aproximada das necessidades financeiras envolvidas.
3. Apostar na educação financeira
Outro ponto fundamental é a educação financeira. Todo o conhecimento que conseguires adquirir pode fazer diferença no processo. Ler livros sobre o tema, acompanhar conteúdos informativos e procurar compreender os conceitos essenciais são formas de reforçar essa base.
4. Criar um fundo de emergência
Antes de iniciar qualquer investimento, é recomendável ter constituído um fundo de emergência que cubra, idealmente, entre 3 a 6 meses de despesas fixas.
A finalidade deste fundo é permitir que, em caso de imprevistos, não seja necessário recorrer ao crédito durante o percurso rumo à estabilidade financeira.
5. Definir uma estratégia
O improviso não deve fazer parte deste processo. O ideal será elaborares um plano estratégico que tenha em conta o teu perfil financeiro, as tuas circunstâncias pessoais e os objetivos definidos. Quanto mais realista for o plano, maior a probabilidade de o concretizares.
Naturalmente, é importante manter em todos os momentos uma mentalidade empreendedora, ser perseverante, constante e estar disposto a assumir riscos controlados.
6. Investir
Depois de conseguires poupar um capital suficiente, chega o momento de o pôr a trabalhar e investi-lo. Isto porque, por mais que poupes, não será o suficiente para conseguires viver apenas desse dinheiro — é necessário juros e rendimentos.
É certo que todo o investimento envolve um risco implícito, embora esse risco possa variar consoante o tipo de ativo e a estratégia adotada. De forma geral, destacam-se dois pontos:
Embora alguns investimentos impliquem risco, deves sempre procurar controlá-lo.
Também existem investimentos cujo risco é muito baixo, embora, em contrapartida, o potencial de valorização também seja menor.
Como estamos a falar de dinheiro, é igualmente interessante contar com o apoio de um consultor fiscal. Os impostos farão parte da tua vida: terás de pagar tributos sobre os rendimentos e os juros obtidos. O consultor tratará de toda a parte burocrática relacionada com os impostos e poderá também aconselhar-te sobre possíveis isenções, deduções e benefícios fiscais.
Em que se pode investir? A escolha de onde e como investir depende, em grande parte, do perfil de risco de cada pessoa, bem como dos seus objetivos financeiros e da sua tolerância à volatilidade.
Alguns princípios amplamente discutidos incluem:
A relação entre risco e potencial de retorno — em geral, maior risco está associado a maior possibilidade de valorização, mas também a maior exposição a perdas;
Diversificar é fundamental — não colocar todos os ovos no mesmo cesto ajuda a minimizar os riscos.
7. Rendimentos passivos
Trata-se de dinheiro que se obtém sem necessidade de trabalho ativo, apenas por ter sido feita uma aplicação ou investimento. Difere dos rendimentos ativos, que exigem uma atividade produtiva contínua (por exemplo, ao trabalharmos todos os dias e recebermos o ordenado no final do mês).
Cada uma das diferentes opções exige um capital inicial diferente — em alguns casos mais elevado, noutros mais acessível, e há ainda casos que requerem um investimento muito reduzido. O potencial de rendimento também varia bastante em cada situação:
Imóveis;
Mercados financeiros;
Produtos financeiros;
Marketing de afiliados;
Venda de produtos online;
Direitos de autor;
Publicidade online;
Domínios;
Dividendos;
Participação em empresas.
8. Juros compostos
Independentemente do tipo de aplicação que se faça para alcançar maior autonomia financeira, o juro composto é muitas vezes apontado como um dos elementos centrais desse processo.
O juro composto resulta da acumulação dos juros ao capital inicial. Assim, o capital cresce ao longo do tempo e, por sua vez, vai gerando novos juros. Ao repetir este processo continuamente, o valor acumulado aumenta de forma exponencial.
Em termos simples, o juro composto tem um efeito multiplicador: os juros geram novos juros, e o montante investido cresce de forma progressiva.
Se a Carolina investir 20.000 euros e obtiver uma rentabilidade de 1.000 euros (5%), em vez de retirar esse ganho pode reinvesti-lo. Assim, o capital passa a ser de 21.000 euros. Se, numa operação seguinte, se obtiver uma rentabilidade de 10%, o ganho não será de 2.000 euros (10% sobre 20.000), mas de 2.100 euros (10% sobre 21.000).
Repetindo este processo sucessivamente, os ganhos tornam-se cada vez maiores, devido ao efeito de capitalização contínua.
Para ilustrar este tipo de cálculos, existem várias ferramentas disponíveis online que permitem simular cenários de juro composto (por exemplo, calculadoras financeiras como a da Rankia Portugal). Estas ferramentas têm caráter meramente ilustrativo e não substituem aconselhamento financeiro personalizado.
A liberdade financeira é um objetivo ambicionado por muitas pessoas. Ter estabilidade económica, menos ansiedade e mais tempo livre é algo valorizado, mas o caminho até lá exige disciplina, planeamento e consistência.
Este artigo apresentou alguns dos elementos habitualmente associados a esse processo, mas a forma de os concretizar dependerá sempre das circunstâncias e decisões individuais.