MTIC do crédito: porque é tão importante?

Madalena Alves

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Madalena Alves
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Pedro Castro

O MTIC é uma sigla que aparece em todos os contratos de crédito ao consumo e crédito habitação. Pode parecer apenas mais um termo técnico, mas é provavelmente o mais importante para ti, consumidor.

MTIC

A sigla MTIC significa “Montante Total Imputado ao Consumidor” e aparece em todos os contratos de crédito à habitação e ao consumo. Este é o elemento mais importante de um contrato de empréstimo porque vai determinar a quantia total que o consumidor terá de pagar quando solicita um financiamento. Fica a saber tudo.

MTIC: O que é e porque importa no crédito habitação

O MTIC é simplesmente a soma do montante total do empréstimo (capital) com os custos associados ao crédito (juros, comissões bancárias, impostos e outros encargos). O MTIC representa, portanto, o custo total que o cliente pagará pelo crédito habitação, incluindo capital, juros, comissões, impostos e outros encargos. É, em suma, o valor global do empréstimo, permitindo perceber quanto realmente se pagará ao longo de todo o contrato.

Como é calculado o MTIC e o que inclui

A fórmula-base é:

MTIC = Montante do Empréstimo + Custos do Crédito

Onde “custos do crédito” incluem, conforme o banco ou entidade explicita:

  • Juros que incidem sobre o montante emprestado.

  • Comissões bancárias de abertura, manutenção ou processamento.

  • Impostos aplicáveis (por exemplo imposto do selo) e outros encargos obrigatórios.

  • Seguros obrigatórios ou acessórios incluídos no contrato.

Outros encargos imputados pela instituição de crédito que constam da documentação pré-contratual.

Na prática, não precisas de fazer contas. O banco, ou entidade financeira apresenta-te o valor calculado com base nas condições do empréstimo. Ainda assim, vamos a dois exemplos atualizados para 2025.

Exemplo de crédito pessoal — 6.000 euros a 36 meses

A Joana e o André vão casar e decidiram fazer a lua de mel nas Maldivas. Como não têm o valor disponível, pedem um crédito pessoal de 6.000 euros a 3 anos. As condições oferecidas:

Logo, com estas condições, para o prazo e montante pretendidos, o MTIC deste crédito seria de 6.835,80 euros.

Importante

Em créditos com taxa variável (como é o caso da maioria dos créditos habitação indexados à EURIBOR), o MTIC apresentado é indicativo e não uma garantia de que será exatamente esse valor final. Porquê? Porque o valor das prestações pode subir ou descer ao longo do tempo, consoante a evolução da taxa de juro. Ainda assim, continua a ser um bom ponto de comparação entre propostas. Quanto mais baixa for a taxa de juro e mais curto o prazo, menor tende a ser o MTIC.

Para comparar propostas de empréstimos é essencial ter em conta o MTIC em vez da prestação mensal. Por muito que a mensalidade seja fulcral para organizar o orçamento mensal e perceber como não pressionar a taxa de esforço, é o MTIC que indicará verdadeiramente quanto custará o crédito no final.

  • Taxa fixa

    A taxa de juro permanece constante ao longo do prazo contratado. Assim, o MTIC apresentado corresponde de forma bastante fiável ao que será pago (desde que as outras variáveis se mantenham).

  • Taxa variável (ou mista)

    A taxa de juro pode variar (por exemplo, indexada à Euribor + spread). Neste cenário, o MTIC apresentado na proposta é indicativo, ou seja, estimado com base nas condições atuais e não garantido.

Para o consumidor: em taxa variável, deve considerar-se a possibilidade de subida das taxas no futuro, o que pode incrementar o custo total e, consequentemente, elevar o MTIC real.

Porque o MTIC é a chave para comparar créditos de forma justa

O MTIC é uma das métricas mais relevantes para comparar propostas de crédito porque revela qual o custo total estimado do empréstimo, em euros, e não apenas a mensalidade, ou taxa. Alguns motivos chave:

  1. Duas propostas podem ter prestações mensais semelhantes, mas, se tiverem prazos ou taxas diferentes, o MTIC pode diferir muito, logo, a proposta com MTIC mais baixo será normalmente mais vantajosa;

  2. O MTIC permite ver o impacto de custos “ocultos”, ou menos evidentes (seguros, comissões, impostos) que não aparecem diretamente apenas ao ver a prestação ou a TAN/TAEG;

  3. Para um mesmo montante financiado e mesmo prazo, a proposta com taxa (TAN/TAEG) mais baixa e/ou menores custos associado tende a ter um MTIC mais baixo, o que significa menor custo total.

O que faz o MTIC subir (ou descer) no crédito habitação

Vários fatores alteram o MTIC, ou seja, fazem-no subir ou reduzir:

Taxa de juro (TAN/TAEG): Taxas mais elevadas implicam mais juros ao longo do tempo, logo, MTIC mais alto.

Prazo do contrato: Prazo mais longo significa pagar juros por mais tempo, logo, MTIC mais elevado - porque um prazo mais curto tende a diminuir o MTIC.

Comissões, seguros, impostos e outros encargos: Qualquer custo adicional aumenta o MTIC.

Modalidade de taxa (fixa versus variável): Numa taxa variável há incerteza quanto aos juros futuros e, portanto, o MTIC estimado pode subir caso as taxas subam.

Montante financiado: Quanto maior o montante pedido, maior será o montante total a pagar (todos os custos incidem sobre esse montante). Nota: este fator é mais “básico”, mas relevante para comparação.

Como usar o MTIC para comparar propostas de crédito

Aqui ficam passos práticos para tirar partido do MTIC na comparação de propostas:

  1. Assegura que as propostas que estás a comparar têm o mesmo montante financiado e mesmo prazo de amortização;

  2. Verifica o MTIC indicado em cada FINE (Ficha de Informação Normalizada Europeia) ou documento equivalente;

  3. Observa se algum dos custos (seguros, comissões, produtos associados) influencia uma das propostas mais do que a outra. Estes custos afetam o MTIC;

  4. Opta pela proposta com o MTIC mais baixo, desde que as restantes condições (taxa, prazo, montante) sejam semelhantes. Esta será, em termos gerais, a mais barata do ponto de vista total;

  5. No caso de taxa variável, considera o risco de variação das taxas e adapta o teu orçamento ao possível aumento do MTIC mais tarde.

Prazo do crédito: como afeta o MTIC e o que deves considerar

O prazo do crédito tem um impacto direto no MTIC, porque determina durante quanto tempo vais pagar juros.
Ao aumentares o prazo, a prestação mensal fica mais baixa, mas o valor total pago ao longo dos anos aumenta, já que os juros são cobrados durante mais tempo.
Por outro lado, escolher um prazo mais curto reduz o MTIC, porque os juros acumulam durante menos tempo — mas implica uma prestação mensal mais elevada.

Em resumo:

  • Prazo mais longo: prestação mais baixa, logo, MTIC mais alto (mais juros no total)

  • Prazo mais curto: prestação mais alta, logo, MTIC mais baixo (menos juros no total)

Ao comparar propostas, o ideal é procurares um equilíbrio sustentável entre o valor da prestação e o custo total do crédito.
Se o prazo for demasiado longo, podes estar a pagar milhares de euros a mais ao banco ao longo do contrato.
Se for demasiado curto, poderás ficar com uma prestação mensal difícil de gerir no teu orçamento.

Dica prática

Antes de escolher o prazo, faz duas simulações:

  1. Uma com prazo mais longo, para saber quanto “poupas” no imediato,

  2. Outra com prazo mais curto, para ver quanto podes poupar no MTIC a longo prazo.

Assim consegues decidir com base no teu orçamento e não só na prestação mensal.

Onde encontrar o MTIC

O MTIC deve constar da documentação pré-contratual que te é entregue pela instituição financeira antes da assinatura do contrato de crédito. Vê onde:

FINE: No caso de crédito habitação (e outros com garantia hipotecária), o documento é a FINE (Ficha de Informação Normalizada Europeia), e o campo onde aparece normalmente é “Montante total a reembolsar (MTIC)”;

FIN: No crédito ao consumo, o documento é a FIN (Ficha de Informação Normalizada), com campo “Montante Total Imputado ao Consumidor”;

Contrato: Verifica-o sempre antes de assinar o contrato e, idealmente, compara esse valor entre diferentes propostas, conforme referido acima;

Simuladores: Algumas entidades - incluindo o ComparaJá -disponibilizam simuladores online que já exibem o MTIC estimado como parte da simulação.

Em que parte da FINE é possível consultar o MTIC?

Na Ficha de Informação Normalizada (FIN) de um crédito ao consumo constará da secção referente ao “Custo do Crédito” e também na área do Plano Financeiro do Empréstimo.

Nos créditos habitação ou créditos com hipoteca, o MTIC aparece na secção “Principais características do empréstimo”, no campo “Montante total a reembolsar (MTIC)”.

Exemplo de crédito habitação — 150.000 euros a 40 anos

A Ana e o Jorge, ambos com 27 anos, compram a primeira casa. Precisam de um crédito habitação de 150.000 euros a 40 anos, com taxa variável (indexada à EURIBOR a 12 meses). Foram-lhes apresentadas as seguintes condições:

  • TAEG: 1,9%,

  • TAN: 0,4%,

  • Comissões iniciais: 270,40€ (abertura do processo) + 124,80€ (formalização) + 220€ (avaliação do imóvel).

Com estas condições, às quais se juntam mensalmente os seguros de vida e do imóvel, o MTIC deste empréstimo seria de 214.529,47 euros.

Perguntas frequentes sobre o MTIC

Quais são os erros mais comuns e os mitos sobre o MTIC?
Qual a diferença entre a MTIC e a TAEG?
O que é o Imposto do Selo sobre Contas Correntes (ISCC)?
O que é o Imposto do Selo pela Utilização do Crédito (ISUC)?
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Conteúdo Revisto por Pedro Castro
Head of Operations
Pedro Castro é atualmente Head of Operations no ComparaJá.pt, onde aplica a sua sólida experiência em análise de dados e gestão de processos para otimizar a operação de crédito habitação. Com uma formação de base em Engenharia Aeroespacial pelo Instituto Superior Técnico e passagens por programas internacionais como o da Universidade Federal de Santa Catarina, o Pedro traz uma abordagem analítica e rigorosa a todos os desafios operacionais. A sua paixão por performance não se encerra na esfera profissional. O Pedro dedicou-se durante anos à vela de competição — tendo participado em campeonatos europeus e mundiais — e mais tarde também ao futebol, como jogador e treinador. Este percurso desportivo moldou o seu espírito de liderança e resiliência, hoje aplicados na gestão de equipas e na transformação de processos no setor financeiro. O Pedro acredita que a experiência do consumidor no acesso ao crédito habitação pode, e deve, ser mais simples, transparente e eficiente. É essa convicção que o move diariamente na procura de soluções que conciliem tecnologia, dados e empatia.


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Pedro Castro
Head of Operations