A sigla MTIC significa “Montante Total Imputado ao Consumidor” e aparece em todos os contratos de crédito à habitação e ao consumo. Este é o elemento mais importante de um contrato de empréstimo porque vai determinar a quantia total que o consumidor terá de pagar quando solicita um financiamento. Fica a saber tudo.
MTIC: O que é e porque importa no crédito habitação
O MTIC é simplesmente a soma do montante total do empréstimo (capital) com os custos associados ao crédito (juros, comissões bancárias, impostos e outros encargos). O MTIC representa, portanto, o custo total que o cliente pagará pelo crédito habitação, incluindo capital, juros, comissões, impostos e outros encargos. É, em suma, o valor global do empréstimo, permitindo perceber quanto realmente se pagará ao longo de todo o contrato.
Como é calculado o MTIC e o que inclui
A fórmula-base é:
MTIC = Montante do Empréstimo + Custos do Crédito
Onde “custos do crédito” incluem, conforme o banco ou entidade explicita:
Juros que incidem sobre o montante emprestado.
Comissões bancárias de abertura, manutenção ou processamento.
Impostos aplicáveis (por exemplo imposto do selo) e outros encargos obrigatórios.
Seguros obrigatórios ou acessórios incluídos no contrato.
Outros encargos imputados pela instituição de crédito que constam da documentação pré-contratual.
Na prática, não precisas de fazer contas. O banco, ou entidade financeira apresenta-te o valor calculado com base nas condições do empréstimo. Ainda assim, vamos a dois exemplos atualizados para 2025.
Exemplo de crédito pessoal — 6.000 euros a 36 meses
A Joana e o André vão casar e decidiram fazer a lua de mel nas Maldivas. Como não têm o valor disponível, pedem um crédito pessoal de 6.000 euros a 3 anos. As condições oferecidas:
TAEG: 9,4%,
TAN: 6,2%,
Comissões iniciais: 60 euros,
Imposto do Selo: 158,40 euros
Logo, com estas condições, para o prazo e montante pretendidos, o MTIC deste crédito seria de 6.835,80 euros.
Em créditos com taxa variável (como é o caso da maioria dos créditos habitação indexados à EURIBOR), o MTIC apresentado é indicativo e não uma garantia de que será exatamente esse valor final. Porquê? Porque o valor das prestações pode subir ou descer ao longo do tempo, consoante a evolução da taxa de juro. Ainda assim, continua a ser um bom ponto de comparação entre propostas. Quanto mais baixa for a taxa de juro e mais curto o prazo, menor tende a ser o MTIC.
Para comparar propostas de empréstimos é essencial ter em conta o MTIC em vez da prestação mensal. Por muito que a mensalidade seja fulcral para organizar o orçamento mensal e perceber como não pressionar a taxa de esforço, é o MTIC que indicará verdadeiramente quanto custará o crédito no final.
Taxa fixa
A taxa de juro permanece constante ao longo do prazo contratado. Assim, o MTIC apresentado corresponde de forma bastante fiável ao que será pago (desde que as outras variáveis se mantenham).
Taxa variável (ou mista)
A taxa de juro pode variar (por exemplo, indexada à Euribor + spread). Neste cenário, o MTIC apresentado na proposta é indicativo, ou seja, estimado com base nas condições atuais e não garantido.
Para o consumidor: em taxa variável, deve considerar-se a possibilidade de subida das taxas no futuro, o que pode incrementar o custo total e, consequentemente, elevar o MTIC real.
Porque o MTIC é a chave para comparar créditos de forma justa
O MTIC é uma das métricas mais relevantes para comparar propostas de crédito porque revela qual o custo total estimado do empréstimo, em euros, e não apenas a mensalidade, ou taxa. Alguns motivos chave:
Duas propostas podem ter prestações mensais semelhantes, mas, se tiverem prazos ou taxas diferentes, o MTIC pode diferir muito, logo, a proposta com MTIC mais baixo será normalmente mais vantajosa;
O MTIC permite ver o impacto de custos “ocultos”, ou menos evidentes (seguros, comissões, impostos) que não aparecem diretamente apenas ao ver a prestação ou a TAN/TAEG;
Para um mesmo montante financiado e mesmo prazo, a proposta com taxa (TAN/TAEG) mais baixa e/ou menores custos associado tende a ter um MTIC mais baixo, o que significa menor custo total.
O que faz o MTIC subir (ou descer) no crédito habitação
Vários fatores alteram o MTIC, ou seja, fazem-no subir ou reduzir:
Taxa de juro (TAN/TAEG): Taxas mais elevadas implicam mais juros ao longo do tempo, logo, MTIC mais alto.
Prazo do contrato: Prazo mais longo significa pagar juros por mais tempo, logo, MTIC mais elevado - porque um prazo mais curto tende a diminuir o MTIC.
Comissões, seguros, impostos e outros encargos: Qualquer custo adicional aumenta o MTIC.
Modalidade de taxa (fixa versus variável): Numa taxa variável há incerteza quanto aos juros futuros e, portanto, o MTIC estimado pode subir caso as taxas subam.
Montante financiado: Quanto maior o montante pedido, maior será o montante total a pagar (todos os custos incidem sobre esse montante). Nota: este fator é mais “básico”, mas relevante para comparação.
Como usar o MTIC para comparar propostas de crédito
Aqui ficam passos práticos para tirar partido do MTIC na comparação de propostas:
Assegura que as propostas que estás a comparar têm o mesmo montante financiado e mesmo prazo de amortização;
Verifica o MTIC indicado em cada FINE (Ficha de Informação Normalizada Europeia) ou documento equivalente;
Observa se algum dos custos (seguros, comissões, produtos associados) influencia uma das propostas mais do que a outra. Estes custos afetam o MTIC;
Opta pela proposta com o MTIC mais baixo, desde que as restantes condições (taxa, prazo, montante) sejam semelhantes. Esta será, em termos gerais, a mais barata do ponto de vista total;
No caso de taxa variável, considera o risco de variação das taxas e adapta o teu orçamento ao possível aumento do MTIC mais tarde.
Prazo do crédito: como afeta o MTIC e o que deves considerar
O prazo do crédito tem um impacto direto no MTIC, porque determina durante quanto tempo vais pagar juros.
Ao aumentares o prazo, a prestação mensal fica mais baixa, mas o valor total pago ao longo dos anos aumenta, já que os juros são cobrados durante mais tempo.
Por outro lado, escolher um prazo mais curto reduz o MTIC, porque os juros acumulam durante menos tempo — mas implica uma prestação mensal mais elevada.
Em resumo:
Prazo mais longo: prestação mais baixa, logo, MTIC mais alto (mais juros no total)
Prazo mais curto: prestação mais alta, logo, MTIC mais baixo (menos juros no total)
Ao comparar propostas, o ideal é procurares um equilíbrio sustentável entre o valor da prestação e o custo total do crédito.
Se o prazo for demasiado longo, podes estar a pagar milhares de euros a mais ao banco ao longo do contrato.
Se for demasiado curto, poderás ficar com uma prestação mensal difícil de gerir no teu orçamento.
Antes de escolher o prazo, faz duas simulações:
Uma com prazo mais longo, para saber quanto “poupas” no imediato,
Outra com prazo mais curto, para ver quanto podes poupar no MTIC a longo prazo.
Assim consegues decidir com base no teu orçamento e não só na prestação mensal.
Onde encontrar o MTIC
O MTIC deve constar da documentação pré-contratual que te é entregue pela instituição financeira antes da assinatura do contrato de crédito. Vê onde:
FINE: No caso de crédito habitação (e outros com garantia hipotecária), o documento é a FINE (Ficha de Informação Normalizada Europeia), e o campo onde aparece normalmente é “Montante total a reembolsar (MTIC)”;
FIN: No crédito ao consumo, o documento é a FIN (Ficha de Informação Normalizada), com campo “Montante Total Imputado ao Consumidor”;
Contrato: Verifica-o sempre antes de assinar o contrato e, idealmente, compara esse valor entre diferentes propostas, conforme referido acima;
Simuladores: Algumas entidades - incluindo o ComparaJá -disponibilizam simuladores online que já exibem o MTIC estimado como parte da simulação.
Em que parte da FINE é possível consultar o MTIC?
Na Ficha de Informação Normalizada (FIN) de um crédito ao consumo constará da secção referente ao “Custo do Crédito” e também na área do Plano Financeiro do Empréstimo.
Nos créditos habitação ou créditos com hipoteca, o MTIC aparece na secção “Principais características do empréstimo”, no campo “Montante total a reembolsar (MTIC)”.
Exemplo de crédito habitação — 150.000 euros a 40 anos
A Ana e o Jorge, ambos com 27 anos, compram a primeira casa. Precisam de um crédito habitação de 150.000 euros a 40 anos, com taxa variável (indexada à EURIBOR a 12 meses). Foram-lhes apresentadas as seguintes condições:
TAEG: 1,9%,
TAN: 0,4%,
Comissões iniciais: 270,40€ (abertura do processo) + 124,80€ (formalização) + 220€ (avaliação do imóvel).
Com estas condições, às quais se juntam mensalmente os seguros de vida e do imóvel, o MTIC deste empréstimo seria de 214.529,47 euros.
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