Portugal: líder em sobrevalorização
O relatório “Housing in the European Union: Market Developments, Underlying Drivers, and Policies” mostra que Portugal é o único país onde a sobrevalorização aumentou em 2024, enquanto outros países europeus registam ligeiro alívio.
“Com base nos dados mais recentes disponíveis, a Comissão estima que a sobrevalorização média é mais significativa em Portugal”, escrevem os autores do estudo, Guillaume Cousin, Christine Frayne, Vítor Martins Dias e Bořek Vašíček.
Entre 2014 e 2024, os preços nominais das casas subiram mais de 200% e, ajustando à inflação, mais de 50%, comparado com a média europeia de 25%.
Por que os preços estão tão altos
O relatório identifica várias razões estruturais:
Oferta limitada: construção de novas casas em mínimos históricos.
Burocracia pesada: emissão de licenças pode levar até 31 semanas.
Regulamentações rígidas: restrições de zoneamento e normas ambientais limitam a expansão do mercado.
Baixa produtividade da construção: predominância de pequenas empresas dificulta aumentos de eficiência.
“A oferta constrangida tornou-se uma característica estrutural dos mercados habitacionais de muitos países. Portugal exemplifica dramaticamente esta realidade”, destaca o relatório.
Outro fator importante: o impacto do turismo. Plataformas de aluguer de curto prazo desviam imóveis do mercado tradicional de arrendamento, aumentando ainda mais a escassez.
Comprar ou arrendar: cada vez mais difícil
Lisboa destaca-se como uma das cidades europeias onde arrendar um T2 em zonas centrais pode consumir mais de 80% do rendimento familiar, superando quase todas as capitais europeias.
A elasticidade do mercado é baixa: quando os preços sobem, não há construção suficiente para equilibrar a procura. Resultado? Preços continuam a disparar.
“Portugal é o país da União Europeia onde o turismo teve o impacto mais forte nos preços habitacionais”, sublinha o estudo.
Para quem precisa de crédito hipotecário, a situação é ainda mais complicada: enquanto noutros países os rendimentos acompanharam o aumento dos preços, em Portugal a capacidade de endividamento diminuiu.