O seguro de vida é uma das condições mais faladas quando se faz um crédito à habitação. Mas será mesmo obrigatório contratá-lo no banco onde pediste o empréstimo? Descobre aqui tudo sobre o seguro de vida associado ao crédito habitação, as suas vantagens e desvantagens, se o podes mudar e se entra no IRS.
Sou obrigado a ter o seguro de vida do crédito habitação no banco?
A resposta rápida é não. Apesar de muitos bancos sugerirem — ou até parecerem exigir — que o seguro de vida seja feito na própria instituição, não és legalmente obrigado a contratar o seguro de vida do crédito habitação no mesmo banco onde tens o empréstimo.
O que acontece muitas vezes é que o banco oferece melhores condições no spread (por exemplo, uma redução de 0,2% a 0,3%) se optares pelo seguro através da entidade financeira. No entanto, isto não significa que seja a opção mais barata.
Em muitos casos, as seguradoras independentes oferecem prémios até 30% mais baixos, especialmente se fores mais jovem ou tiveres um perfil de risco reduzido.
Vantagens e desvantagens de fazer o crédito habitação fora do banco
Ao decidir contratar o seguro de vida fora do banco, é essencial pesar o que ganhas e o que podes perder.
Vantagens do seguro de vida no banco:
Facilidade e rapidez na contratação — o processo é simplificado e normalmente feito durante a assinatura do crédito.
Possível redução do spread — alguns bancos oferecem uma taxa de juro ligeiramente mais baixa se aceitares o seguro interno.
Menos burocracia inicial — a documentação é tratada diretamente pelo banco, acelerando a aprovação do crédito.
O banco pode exigir que tenhas um seguro de vida ativo enquanto o crédito estiver a decorrer, mas tu tens o direito de escolher onde o contratar — desde que garanta a mesma cobertura e beneficiário (o banco).
Desvantagens de fazer o seguro no banco:
Prémios mais altos — as apólices do banco costumam ser mais caras, especialmente à medida que o titular envelhece.
Menos liberdade para ajustar condições — o seguro está associado ao contrato do crédito, dificultando alterações futuras.
Custo total elevado a longo prazo — mesmo com desconto no spread, o seguro ao longo de 30 ou 40 anos pode sair mais caro que uma alternativa externa.
Abaixo, mostramos um exemplo prático com base num casal que contrata um crédito habitação de 200.000 euros a 30 anos, com taxa variável.
Exemplo
O João e a Marta aceitaram o seguro do banco quando fizeram o crédito à habitação. Não têm doenças preexistentes, são não fumadores, e têm menos de 35 anos. Achavam, portanto, que tinham um bom seguro de vida.
Passados 2 meses, num jantar de amigos falaram do custo que pagavam todos os meses. Toda a gente parecia ter seguros com mensalidades mais baixas, o que os deixou a pensar. Decidiram comparar preços:
Fatores | Seguro do banco | Seguro numa seguradora externa 1 | Seguro numa seguradora externa 2 |
Coberturas principais | Morte e invalidez total e permanente (60%) | Morte e invalidez total e permanente (60%) | Morte e invalidez total e permanente (80%) |
Redução no spread | -0,2% no crédito | Sem redução | Sem redução |
Liberdade de escolha e negociação | Limitada | Total | Total |
Prémio mensal | 45€ | 32€ | 29€ |
A poupança bruta do casal parece clara — entre 4.680 e 5.760 euros ao longo do empréstimo, se tudo o resto se mantiver igual.
Mas há dois fatores importantes:
a redução de spread (-0,2%) oferecida pelo banco pode compensar parte dessa poupança;
a percentagem mais alta do seguro (80%) não significa maior proteção, trata-se sim de um critério mais exigente para o pagamento da cobertura.
ITP 60% — aciona-se quando o segurado tem incapacidade igual ou superior a 60%, reconhecida oficialmente, o que normalmente impede o exercício da profissão habitual.
ITP 80% — Só é acionada quando a incapacidade é igual ou superior a 80%, isto é, quando a pessoa fica totalmente dependente de terceiros para as atividades básicas do dia-a-dia.
O seguro do banco oferece uma cobertura razoável (com ITP a 60%), mas a um preço mais elevado. Já o seguro numa seguradora externa com ITP a 60% surge como a opção mais equilibrada entre preço e proteção. No entanto, ao o casal optar por esta solução, perde-se o benefício do spread reduzido, o que deve ser ponderado no custo total do crédito.
Por fim, o seguro numa seguradora externa com ITP a 80% pode parecer mais vantajoso à primeira vista. Contudo, na prática, é uma cobertura mais restritiva, que apenas é acionada em casos de invalidez extrema. Esta opção só faria sentido para quem tem de reduzir ao máximo o custo mensal.
Tendo isto em conta, e depois de fazerem as contas relativamente ao spread a pagar depois da mudança, O João e a Marta optaram por transferir o seguro para a segunda opção e pouparam ainda bastante, mantendo exatamente as mesmas coberturas.
Qual o melhor seguro de vida de crédito habitação?
O melhor seguro de vida é aquele que oferece a melhor relação entre preço, coberturas e flexibilidade.
Ao escolher o seguro associado ao teu crédito habitação, verifica sempre:
Se cobre morte e invalidez total e permanente (ITP) — que é obrigatório para crédito habitação;
Se a apólice tem em conta tua idade e profissão;
Se há possibilidade de ajuste automático do capital seguro (acompanha o valor em dívida).
Faz várias simulações antes de assinar. O mesmo capital pode ter diferenças de até 40% entre seguradoras.
Posso mudar de seguro de vida de crédito habitação?
Sim, podes mudar de seguro de vida em qualquer momento, mesmo com o crédito habitação em curso.
No entanto, deves seguir alguns passos:
Pede várias simulações e garante que o novo seguro tem as mesmas coberturas e beneficiário (o banco).
Faz todas as contas (incluindo as perdas de bonificação de spread possíveis).
Comunica a intenção de mudança ao banco, enviando a nova apólice e comprovativo de pagamento.
Solicita o cancelamento do seguro anterior, apenas depois de o banco confirmar a aceitação do novo.
O banco não pode recusar o novo seguro se cumprir as mesmas condições de cobertura, de acordo com a Lei n.º 222/2009.
Mudar de seguro pode representar poupanças significativas a longo prazo, especialmente se o teu contrato já tiver alguns anos (quanto mais velhos ficamos, maior tende a ser o prémio — e as seguradoras competem com novos cálculos de risco).
Seguro de vida de crédito habitação entra no IRS?
É uma das dúvidas mais comuns entre quem tem crédito à habitação — afinal, o seguro de vida pode ou não ser deduzido no IRS?
Na maioria dos casos, os prémios do seguro de vida associados ao crédito habitação não são dedutíveis no IRS. No entanto, há exceções importantes previstas na lei que vale a pena conhecer.
Exceções em que o seguro de vida pode ser deduzido
Profissões de desgaste rápido
Se trabalhas numa profissão reconhecida legalmente como de desgaste rápido (como mineiros, pescadores ou profissionais de transporte aéreo, por exemplo), podes deduzir parte do valor pago pelo seguro de vida — desde que a apólice cubra morte, invalidez ou reforma.Pessoas com deficiência igual ou superior a 60%
Quem tem um grau de incapacidade permanente igual ou superior a 60% pode deduzir 25% dos prémios pagos, desde que o seguro cubra morte, invalidez ou reforma. Esta dedução é feita na categoria dos benefícios fiscais para pessoas com deficiência, e deve estar devidamente comprovada pela apólice e pela certidão médica.
Ter o seguro de vida do banco pode parecer mais simples, mas nem sempre é a escolha mais económica.
Fazer uma simulação independente pode revelar diferenças de centenas ou mesmo milhares de euros ao longo do tempo — sem perder proteção nem vantagens.