Risco de nova recessão: o que significa? Como me preparar?

Susana Pedro

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Susana Pedro

O risco de uma recessão na Zona Euro está a crescer. Sabe a que se deve este fenómeno e como te podes preparar para as dificuldades que se aproximam.

Recessão

Depois de um abrandamento económico em 2023 e início de 2024, os receios de recessão generalizada deram lugar a uma recuperação moderada, embora desigual. A inflação está a desacelerar, mas as taxas de juro permanecem elevadas, e a economia da Zona Euro ainda enfrenta vários riscos — desde tensões geopolíticas até à fragilidade do setor industrial. Em 2025, a palavra de ordem é vigilância e preparação.
Descobre o que é uma recessão, como pode voltar a surgir e como proteger as tuas finanças num cenário de incerteza.

O que significa recessão?

O termo recessão designa uma diminuição geral na atividade económica durante um determinado período de tempo. Considera-se que a economia entrou em recessão após dois trimestres consecutivos de queda no Produto Interno Bruto (PIB), descontado o efeito da inflação.

Portugal está longe de ser imune a este fenómeno. Pelo contrário, a atividade económica atravessou seis recessões desde a década de 80.

Em 2023, a Alemanha — maior economia da UE — entrou tecnicamente em recessão com dois trimestres de queda do PIB, antes de recuperar ligeiramente em 2024. Já em 2025, países como Itália e Áustria registam crescimento estagnado.

O que origina uma recessão?

Até certo ponto, a contração da economia é considerada como uma fase normal e expectável. A economia, por natureza, é dinâmica e cíclica, pelo que implicará sempre quedas e ascensões ao longo do tempo. No entanto, para justificar uma recessão, há normalmente fatores bem definidos.

1. Geopolítica instável

A guerra na Ucrânia continua a influenciar os mercados energéticos, mas com impacto mais moderado. Em 2025, novas tensões no Mar Vermelho, relações comerciais China-EUA e instabilidade no Sahel africano são os pontos críticos. Os preços do petróleo e gás natural mantêm-se voláteis, pressionando os custos de produção e transporte.

2. Clima e transição energética

As alterações climáticas já não são só um risco futuro — em 2025, secas severas, ondas de calor e cheias em regiões agrícolas estão a provocar disrupções no fornecimento alimentar e energético. A transição para fontes limpas implica investimento público e privado elevado, afetando o equilíbrio orçamental de muitos países.

3. Decisões do Banco Central Europeu

A este panorama junta-se agora uma atitude mais reativa e determinada dos bancos centrais em fazer subir os juros para combater a inflação, criando-se assim as condições para uma recessão mundial.

O aumento de juros origina maiores dificuldades para as famílias portuguesas fazerem face aos compromissos financeiros, como os créditos que possam deter, e obriga e uma reformulação mais prudente e acautelada de hábitos de consumo, inclusivamente reduzindo-o a bens essenciais.

Portugal não está imune a este risco, nem protegido da inflação energética e alimentar. O nosso país tem, inclusivamente, apresentado números que revelam uma clara contração económica, com impactos inevitáveis nas finanças familiares.

Quais as consequências da recessão para as famílias?

A recessão económica pode representar um grande desafio para a gestão orçamental dos portugueses, desde aspetos mais essenciais, como a manutenção do emprego, a dimensões mais globais, como a rentabilidade de investimentos.

1. Aumento do desemprego

Com a contração económica aumenta o desemprego, na medida em que a quebra de produção e, consequentemente, de resultados, obriga as empresas a ponderarem cortes nas despesas, como as associadas aos vencimentos dos colaboradores.

Este cenário pode ir mais longe e até obrigar as empresas a declarar falência e a encerrar definitivamente, extinguindo-se assim todos os postos de trabalho.

2. Redução do orçamento familiar

Aumentando o desemprego, diminui necessariamente a fonte de rendimento familiar, o que faz com que as famílias enfrentem um golpe especialmente duro. Com um menor poder de compra, poderão ficar comprometidos hábitos de consumo, mesmos os mais básicos, com uma grande queda na tua qualidade de vida.

3. Retração dos investimentos

Uma economia em recessão não é atrativa para receber novos investimentos. Quem investe é desencorajado pela falta de garantias e de estabilidade, pelo que procura alternativas noutros mercados que apresentem um menor índice de risco, ou então prefere poupar para preservar os teus fundos de emergência.

Como me preparar para a recessão?

1. Saber para onde vai o teu dinheiro

Esta dica pode parecer trabalhosa, mas faz a diferença. Faz uma folha Excel (ou usa uma app) com todas as tuas despesas semanais ou mensais. Registar tudo o que entra e sai é essencial para obter maior controlo sobre a tua vida financeira.

Desta forma, vais poder identificar gastos que podem ter passado despercebidos e que estão a encolher o orçamento disponível, como débitos automáticos de serviços ou produtos que não estás a utilizar. Poderás também encontrar gastos que, após devida ponderação, concluis não serem necessários.

2. Rever subscrições e renegociar despesas

Fica atento às variações na oferta de fornecedores de serviços, como luz ou gás, de operadoras de telecomunicações e serviços de streaming. Deves fazer isso em qualquer altura, de forma a manteres-te informado, mas é especialmente importante que o faças para preparar uma recessão. Se encontrares mais barato, muda.

Mesmo que a diferença te pareça quase insignificante, as poupanças vão acumulando. Se não quiseres mudar de empresa fornecedora, também poderás tentar renegociar um desconto na fatura.

3. Construir o teu fundo de emergência

Este passo é essencial, mesmo em períodos sem recessão económica. Ter e manter um fundo de emergência é importante para te estruturares financeiramente e para, em caso de perda repentina de rendimentos, conseguires organizar-te e recuperar.

Se ainda não construíste o teu fundo de emergência, fá-lo já, mesmo se tiveres de começar com quantias pequenas. Se já o tiveres, considera reforçá-lo. O valor recomendado pelos especialistas corresponde a, no mínimo, 6 meses do teu custo de vida, ou seja, o montante que te permita viver durante 6 meses sem qualquer entrada de dinheiro.

4. Evitar dívidas

Em qualquer período económico, as dívidas são sempre de evitar e, num período de recessão, mais ainda. Numa altura em que o Banco Central Europeu dá sinais de fazer subir as taxas de juro para travar os efeitos da inflação, os créditos ficam mais caros, o que implica um aumento considerável das tuas mensalidades.

O foco será em conseguir manter o compromisso financeiro que atualmente tens com os créditos subscritos. Assim, se tinhas planeado fazer algum tipo de investimento com recurso a crédito, talvez seja mais prudente adiar.

5. Reavaliar os seguros e os créditos

Renegociar créditos e seguros pode representar uma poupança significativa no final do mês. Dada a oferta existente, é muito provável que encontres uma alterativa financeiramente mais vantajosa que te permita por de parte alguns euros por mês.

Começa pelo seguro de saúde, seguro de vida e o crédito habitação, são os produtos onde habitualmente se consegue maior margem de negociação, neste último, sobretudo na taxa de spread.

Faz também uma pesquisa sobre outros bancos que possam oferecer melhores condições. Em caso afirmativo, pondera fazer transferência de crédito para outras entidades e, assim, reduzir as tuas prestações mensais.

6. Regularizar as dívidas do cartão de crédito

Se já construíste o teu fundo de emergência, pondera canalizar o dinheiro que não estás a gastar para abater as dívidas do cartão de crédito, e outras que possas deter. Fixa como objetivo livrar-te da dívida, e envolve todos os membros da família.

Se possível, suspende a utilização do cartão de crédito para não aumentar a dívida com outros gastos no cartão. Não caias na armadilha de pagar depois. Evita despesas desnecessárias: por exemplo, se decidirem não jantar fora, ponham de lado o dinheiro que não gastaram. No final do mês, o montante acumulado pode ser surpreendente. Quanto mais juntares, mais depressa liquidas a dívida.

Como será a próxima recessão?

Apesar da crescente probabilidade de recessão, existem fatores que trazem algum alívio ao cenário atual. Vários setores, como tecnologia, energia e saúde, continuam a apresentar resiliência e a sustentar parte do crescimento económico. Além disso, os mercados de trabalho permanecem sólidos em várias regiões, ainda que com sinais de abrandamento, o que contrasta com o que se esperaria numa contração profunda.

No plano global, embora as tensões comerciais e os elevados níveis de dívida pública pesem sobre as perspetivas, o crescimento mantém-se positivo e os bancos centrais, apesar da prudência, dispõem de margem de manobra para reagir. O facto de algumas economias emergentes estarem a implementar incentivos fiscais e investimentos em infraestruturas também ajuda a equilibrar os riscos.

Assim, mesmo num ambiente desafiante, não estamos perante o pior dos cenários. O mais provável é uma desaceleração prolongada, e não uma quebra abrupta. Ainda assim, torna-se essencial manter prudência nas finanças pessoais, diversificar fontes de rendimento e acompanhar de perto a evolução da economia, para que possamos adaptar-nos com maior segurança às mudanças que se avizinham.


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