Comprar 50% de um imóvel: vale a pena? Quais os riscos?

Susana Pedro

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Susana Pedro
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Pedro Castro

Comprar uma casa a meias — com o(a) parceiro(a), um familiar ou um amigo — é cada vez mais comum. Mas o que significa, na prática, comprar 50% de um imóvel? Quais são os direitos e deveres de cada parte? E o que acontece se alguém quiser vender a sua parte?

Comprar um imóvel

A procura para comprar um imóvel pode ser muito morosa e complicada, devido à grande quantidade de questões que se deve ter em conta. Continua a ler para perceber se comprar 50% de um imóvel pode ser uma solução viável. Neste artigo explicamos as implicações legais, financeiras e fiscais de ter um imóvel em copropriedade.

O que significa comprar 50% de um imóvel?

Comprar metade de uma casa significa que vais tornar-te co-proprietário — ou seja, o imóvel passa a pertencer a mais do que uma pessoa, em partes iguais (50/50) ou desiguais (por exemplo, 60/40).

Cada co-proprietário é titular de uma quota ideal do imóvel, e essa quota está registada na Conservatória do Registo Predial.

Exemplo:

Se o imóvel vale 300.000 euros, e compras 50%, a tua parte corresponde a 150.000 euros. Mas isso não significa que ficas com metade dos quartos: serás dono de metade de toda a casa — não de divisões específicas — e terás de partilhar todas as decisões com o outro titular.

Quem pode comprar apenas metade de uma casa?

Há três situações comuns:

  • Casais não casados (união de facto) que compram juntos a casa onde vão morar;

  • Familiares (pais e filhos, irmãos, tios e sobrinhos) que compram uma casa de férias ou de investimento;

  • Amigos ou investidores que se juntam para comprar um imóvel em conjunto.

Cada situação tem implicações legais diferentes. Se fores casado em regime de comunhão de bens, a compra pode ser automaticamente partilhada.

Já se forem apenas amigos ou familiares, é essencial definir por contrato como se gere a propriedade e quem paga o quê.

Dica:

Mesmo que vás comprar apenas metade, o banco vai exigir todos os documentos necessários para crédito habitação, tal como no caso de uma compra total. É importante que os vás reunindo.

Como funciona o crédito habitação nestes casos?

É possível pedir crédito habitação para comprar 50% de um imóvel, mas é importante ter em conta que:

  • O banco vai avaliar a capacidade financeira de todos os titulares;

  • O crédito é solidário — ou seja, se um deixar de pagar, o outro continua responsável pela totalidade da dívida;

  • A taxa de esforço conjunta não deve ultrapassar 35%.

Algumas instituições financeiras exigem que ambos sejam co-mutários do mesmo crédito, enquanto outras permitem empréstimos separados, sobretudo em partilhas de heranças ou divórcios.

Custos e impostos a considerar

Mesmo ao comprar apenas 50% de um imóvel, vais ter de pagar custos proporcionais sobre a tua parte. Imagina que tu e outra pessoa decidem comprar um apartamento em Leiria, avaliado em 300.000 euros — um T4 num prédio recente, com elevador, garagem e porteira. Cada um ficará com 50% do imóvel.

IMT (Imposto Municipal sobre Transmissões)

Este imposto é calculado sobre o valor da tua quota (no exemplo dado, 150.000 euros). Aplicando as taxas de IMT em vigor para habitação própria e permanente, e assumindo que não é a tua primeira casa, o valor a pagar rondará 1.700 euros.

Importante:

Se comprares a metade de um imóvel que já pertence ao teu cônjuge, pode haver isenção de IMT (em certos regimes matrimoniais).

IMI

Este é um imposto pago anualmente, também proporcional à tua parte. Assumindo uma taxa de 0,3% em Leiria, o valor anual será de cerca de 200 euros.

Escritura e registos

Os custos com notário, escritura pública e registo predial devem situar-se entre 500 e 700 euros no total. Estes valores são pagos no momento da compra, e podem ser divididos entre ambos os compradores.

Seguro multirriscos habitação e de vida

Como o imóvel é comprado com crédito, o banco exigirá dois seguros:

Os valores variam bastante consoante a idade dos titulares, o valor da compra e o capital em dívida, mas, em média, poderás contar com:

  • Multirriscos — entre 120 e 200 euros/ano.

  • Vida — entre 150 e 400 euros/ano.

Atenção:

Podes optar por fazer o seguro fora do banco, que muitas vezes é mais económico que o que o banco te apresenta. Neste caso, confirma se cumpre todas as coberturas exigidas pela instituição financeira.

Manutenção e condomínio

Num prédio recente, com porteira, garagem, elevador e espaços comuns ajardinados, o condomínio será naturalmente mais elevado. Assumindo uma quota mensal de 70 a 90 euros, corresponderá a 35 a 45 euros por mês por co-proprietário, ou seja, cerca de 400 a 500 euros por ano cada.

Lembra-te de que todas as despesas extraordinárias — como reparações do elevador ou obras no telhado — são igualmente partilhadas entre os donos, conforme a quota de propriedade.

DespesaValor estimado
IMT1.700€
IMI200€
Escritura e registos600€
Seguros (vida + multirriscos)300€
Condomínio e manutenção450€
Total estimado (1.º ano)3.250€
Este valor é apenas indicativo, mas mostra como comprar 50% de um imóvel envolve custos reais e responsabilidades proporcionais — mesmo sendo “apenas metade”.

Comprar 50% de uma casa implica partilhar decisões e responsabilidades. Ambos devem contribuir para:

Nenhum co-proprietário pode vender, hipotecar ou arrendar a casa sem o consentimento do outro. Se um dos titulares quiser vender a sua parte, o outro tem direito de preferência — ou seja, pode comprar essa metade antes de qualquer comprador externo.

Existem riscos e desvantagens a considerar?

Como em qualquer decisão de comprar casa, é importante prestar atenção aos detalhes. Apesar de ser uma solução mais acessível, comprar apenas metade de um imóvel traz riscos:

  • Decisões conjuntas obrigatórias — obras, arrendamentos e vendas precisam de acordo.

  • Conflitos futuros — se a relação mudar, pode tornar-se difícil gerir o bem.

  • Liquidez reduzida — vender apenas metade da casa é complicado, e o valor tende a ser menor.

  • Risco financeiro solidário — se o outro titular não pagar o crédito, o banco pode cobrar-te a ti.

Alternativas à compra de 50%

Se o objetivo é investir ou reduzir custos, há opções a considerar:

Comprar 50% de um imóvel pode ser uma boa solução para entrar no mercado da habitação com menor investimento inicial. Mas é essencial perceber que a co-propriedade implica responsabilidade conjunta, decisões partilhadas e risco partilhado.

Antes de avançar, compara as condições do crédito, faz simulações e garante que todas as regras ficam claras desde o início. Se vais comprar a tua primeira casa, dá um olho ao nosso guia completo:


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Pedro Castro
Head of Operations