Quando temos muitos créditos, o pagamento de todas as prestações mensais pode-se tornar difícil. Juntar todos os empréstimos num só poderá ser uma solução, mas até que ponto é que realmente compensa a consolidação de dívidas?
Com a crise económica foram muitas as famílias que ficaram endividadas graças aos empréstimos que tinham – crédito automóvel, crédito à habitação ou até pagamentos do cartão de crédito – uma vez que, com cortes salariais e aumentos de preços, ficaram com dificuldades em pagar todas as prestações mensais.
Assim, antes de entrar em incumprimento por não conseguir pagar os seus créditos (como aconteceu com algumas famílias portuguesas), o ideal será pensar na consolidação de dívidas. O montante mensal a pagar é reduzido e o seu orçamento familiar ficará mais folgado. Compare todo o mercado para poder encontrar o que melhor se adequa às suas necessidades.
Consolidação de dívidas: o caso do Daniel e da Margarida
O Daniel e a Margarida são um casal de 50 anos e têm um filho que entrou este ano para a faculdade, o Henrique. Para conseguir dar a melhor educação possível ao jovem, o casal contraiu um crédito formação, que acumulou com o crédito à habitação (que já pagam há 20 anos) e com o empréstimo para comprar um automóvel solicitado há três anos.
O casal começou a ter algumas dificuldades a gerir o seu orçamento para pagar as três prestações mensais, bem como todas as restantes despesas e os custos associados à vida académica do Henrique: passe mensal de transportes públicos, alimentação na Universidade e ainda livros e material escolar.
Atualmente, o casal paga as seguintes prestações mensais:
- Crédito à habitação: 466 euros;
- Empréstimo automóvel: 321,90 euros;
- Crédito formação: 111,15 euros.
No total, as despesas mensais exclusivas para pagamento de créditos são de 899,05 euros. Ora, para o casal, que aufere 2 mil euros de rendimentos líquidos, a taxa de esforço encontra-se nos 45%. Esta não deve ultrapassar um terço do rendimento do agregado familiar (ou seja, 33%), portanto a dificuldade de pagamento das prestações mensais da Margarida e do Daniel começou a ser cada vez maior.
O casal teria duas opções: realizar um crédito consolidado hipotecário ou um crédito consolidado apenas com os dois empréstimos pessoais.
Para o crédito consolidado hipotecário, o cliente deve entrar em contacto com a instituição financeira que detém o financiamento e perceber se esta dispõe deste tipo de empréstimo. Neste, o prazo pode ser aumentado, mas será necessário realizar uma segunda hipoteca.
O Daniel e a Margarida preferiram, ao invés, optar por consolidar os dois empréstimos bancários, excluindo o crédito à habitação. Com uma dívida conjunta de 15.730 euros, a comparação do mercado fez os pais do Henrique perceberem que a consolidação era uma vantagem.
Instituição financeira | TAEG | Prestação mensal | MTIC |
---|---|---|---|
Novo Banco | 9,7% | 286,02€ | 20.593,15€ |
Cetelem | 11% | 295,38€ | 21.267,03€ |
BPI | 11,8% | 300,74€ | 21.653,31€ |
Millennium bcp | 12,1% | 303,62€ | 21.860,36€ |
Santander | 13% | 310,09€ | 22.326,54€ |
Cofidis | 13,5% | 313,29€ | 22.557,12€ |
Unibanco | 13,6% | 313,97€ | 22.605,62€ |
Em resumo, a prestação mensal que passariam a pagar seria mais baixa e, como tal, a sua taxa de esforço (com o crédito habitação) descia para os 37,6%.
Quanto ao financiamento da casa, na situação deste casal fará mais sentido recorrer a uma das duas opções: renegociar o crédito ou transferir o empréstimo à habitação. Deste modo, podem conseguir, por exemplo, taxas mais reduzidas ou prazos de pagamento superiores e, assim, pagar menores prestações mensais.
O caso da Sofia
A Sofia tem 35 anos e, para além de ainda estar a pagar o financiamento para o seu MBA, viu-se obrigada a contrair um crédito automóvel, visto ter ficado sem o seu antigo e muito velho carro.
Esta jovem paga duas prestações mensais a duas instituições financeiras diferentes: 373,76 euros pelo empréstimo automóvel e 555,56 euros pelo crédito formação, o que dá um total de 929,32 euros.
Com um rendimento mensal líquido de 1.500 euros, a Sofia tem uma taxa de esforço de 60% e, passado um ano com estes encargos financeiros, percebeu que era complicado para si suportar todos estes custos. Como não queria ficar sobreendividada no futuro, decidiu optar pela consolidação de dívidas para o montante em falta: 35.750 euros.
Instituição financeira | TAEG | Prestação mensal | MTIC |
---|---|---|---|
Novo Banco | 9,4% | 645,40€ | 46.469,06€ |
Cetelem | 10,9% | 669,32€ | 48.191,21€ |
BPI | 11,8% | 683,45€ | 49.208,47€ |
Banco CTT | 10,8% | 666,92€ | 48.018,45€ |
Millennium bcp | 11,9% | 686,73€ | 49.444,38€ |
Santander | 12,4% | 694,48€ | 50.002,50€ |
Cofidis | 13,3% | 708,66€ | 51.023,64€ |
Assim, com a consolidação de dívidas, a Sofia ficará a pagar, no mínimo, 645,40 euros mensais, o que corresponde a uma taxa de esforço de 43%. Neste caso, a consolidação de dívidas é uma vantagem que permite a esta jovem ter uma maior folga orçamental e não terá dificuldades em pagar o seu financiamento.
No entanto, é importante perceber que a Sofia pagará, no final do empréstimo, um Montante Total Imputado ao Consumidor (MTIC) superior ao que pagaria se não fizesse a consolidação de dívidas. Mesmo com esta desvantagem, a Sofia preferiu consolidar os créditos e ter uma prestação mensal inferior.
Compensa, ou não, a consolidação de dívidas?
Como é possível depreender através dos exemplos mencionados, a consolidação de dívidas deve ser analisada casuisticamente. Cada caso é único e, como tal, aconselhamos a comparar o mercado para perceber se, para a sua situação em particular, é ou não vantajoso consolidar os vários créditos.
A consolidação de dívidas permite uma melhor gestão do orçamento mensal do agregado familiar. Isto porque, ao juntar todos os créditos, apenas fica a pagar uma prestação todos os meses a uma só instituição financeira.
Para além disso, o valor mensal a pagar será inferior e as taxas de juro também. Outra vantagem reside na poupança nas comissões bancárias, uma vez que o cliente fica apenas com um crédito de uma instituição e não de várias.
No entanto, e para que a mensalidade seja inferior, o prazo de pagamento terá de ser aumentado. Isto leva a que o custo total do crédito consolidado possa ser superior devido ao facto de o cliente, no fundo, estar a pagar mais juros.
Assim, é tudo uma questão de pesar os prós e os contras e de perceber se, no seu caso, compensa, ou não, fazer a consolidação de dívidas. Deve ainda ter atenção e perceber que o crédito consolidado é uma forma de restabelecer o seu equilíbrio financeiro e não de obter mais financiamento.