Consoante dados do Banco de Portugal (BdP), só em fevereiro deste ano, no nosso país, foram gerados 677,5 Milhões de euros em receitas provenientes do setor do Turismo, o que representa um crescimento de 13% relativamente ao período homólogo. Sendo esta uma atividade em crescimento – e aproveitando o Dia Mundial do Turismo, que se assinala a 27 de setembro – e pesando os números de desemprego gerados pela crise financeira, pode ser uma alternativa a considerar. Neste sentido, avaliámos que opções de financiamento existem no mercado para esta área com recurso a dois casos práticos.
Consoante a Secretaria de Estado do Turismo, a atividade turística registou um crescimento de 11,5% de 2015 para 2016, o que fez com que se criassem 40 mil postos de emprego, sendo que, na década que medeia 2005 e 2015, o número de voos e de passageiros com destino a Portugal duplicou.
Associado a esta notável expansão do setor do Turismo em Portugal encontra-se igualmente o boom do empreendedorismo. Em 2015, o número de empresas em atividade no Turismo aumentou 2,4% relativamente ao ano anterior e o volume de negócios do setor do Turismo aumentou 6% nesse mesmo período temporal, conforme dados do BdP.
Que opções de financiamento existem para novos e pequenos negócios?
Desde logo, para além da dedicação de tempo que iniciar um negócio próprio abrange, existe ainda um gasto de dinheiro avultado com o investimento em si, a começar pelo financiamento. Nesta era tão propícia ao florescimento de startups, vejamos que opções existem no mercado para financiar pequenos negócios.
Em primeiro lugar, pode recorrer-se a business angels, que são investidores privados que, face a projetos que considerem ter viabilidade, investem capital próprio com a contrapartida de ficarem como sócios ativos da empresa ou através de royalties, disponibilizando toda a sua rede de contactos e os seus (valiosos) conhecimentos de gestão e marketing.
Outra possibilidade é o crowdfunding (financiamento colaborativo). Quem colocar o seu projeto online, pode angariar fundos através de plataformas onde se encontram estas comunidades que investem em novos negócios. Pode também recorrer-se aos chamados empréstimos peer to peer (P2P) realizados em plataformas online através das quais se pode receber financiamento de particulares a taxas muito atrativas. No nosso país existem várias plataformas já bastante conhecidas, como é o caso da PPL.
Existem também alguns apoios estatais destinados a estas iniciativas. O Startup Portugal Momentum, por exemplo, é um programa para recém-licenciados que queiram abrir o seu próprio negócio. Existe ainda o programa Portugal 2020 que, na senda da promoção da internacionalização e competitividade, financia empresas de acordo com o seu desempenho.
Recentemente surgiu também a Linha de Apoio à Qualificação da Oferta, um novo instrumento de financiamento específico para a área do Turismo, que resulta de um protocolo entre um conjunto de instituições financeiras e o Turismo de Portugal e que promove melhores condições no acesso ao financiamento. Qualquer empresa turística, seja de que dimensão for, pode candidatar-se a este programa.
Para quem não tem acesso a crédito bancário pela via regular ou se encontra desempregado (ou em vias de ficar), há ainda o microcrédito, uma solução com apoio do Estado.
Conta-se ainda, finalmente, com a possibilidade de se optar por um crédito pessoal para pequenos negócios, que tem a vantagem de se poder investir em tudo o que se precisa de uma só vez e ir pagando o financiamento em prestações mensais. Do ponto de vista financeiro, comprar todo o equipamento necessário, licenciar o negócio em si – enfim, todo o investimento inicial – pode sair muito dispendioso e o mais provável é não se ter esse dinheiro disponível.
Em termos de caraterísticas, este tipo de empréstimo exige a apresentação do plano de negócios da empresa para avaliação do banco e geralmente as instituições não financiam acima de 50 mil euros. As taxas de juro – refletidas na TAEG – geralmente são mais reduzidas do que as aplicadas ao crédito pessoal sem finalidade.
Num empréstimo destinado a investir em pequenos negócios, a taxa de juro é indexada à EURIBOR (a três, seis ou 12 meses), acrescendo-lhe um spread praticado pelo banco de acordo com o risco do cliente. Já os prazos, no entanto, podem não ser os mais flexíveis, não ultrapassando os 72 meses.
Para perceber se compensa realizar um crédito, recorremos a dois casos práticos: o do Rodrigo e do seu Tuk Tuk e do Vasco com o seu original food truck de sushi.
Até 30 mil euros de investimento: o Food Truck do Vasco
Numa altura em que as food trucks (“carrinhas de comida”) dominam a paisagem urbana das grandes cidades e são já, para além de uma tendência, um modelo de negócio, esta pode ser a oportunidade ideal para lançar um pequeno negócio cujo investimento inicial não ultrapassa os 30 mil euros.
Desde hambúrgueres e cachorros gourmet, passando pelos gelados de iogurte e sumos de fruta até às opções de gastronomia local, a moda dos food trucks em Portugal veio para ficar, para todos os gostos e feitios. São veículos adaptados para produzir e servir refeições e diferenciam-se das tradicionais roulottes de bifanas ou farturas através de um conjunto de inovações.
A venda ambulante de refeições não é novidade. Mas a prática da mesma com comida de alta qualidade é. Os perfis de investidores neste tipo de negócio tanto podem ser jovens desejosos de lançar o seu primeiro negócio, como chefes já reconhecidos no mercado que pretendem explorar outras formas de testar novos conceitos, como ainda marcas que pretendem disponibilizar uma alternativa móvel ao seu já existente espaço físico.
O Vasco, economista de 31 anos de idade, amante de sushi nos tempos livres, surfista de vocação e analista de risco de profissão, sempre desejou lançar o seu próprio negócio na área da restauração. Depois de ter aprendido a cozinhar sushi com um dos seus melhores amigos, este sonho precisava de ser concretizado.
Compreendendo os custos altamente elevados que ter um estabelecimento aberto implica (não só em equipamento, como em licenças e contratação de pessoal), optou por seguir a onda dos restaurantes on the go. Vejamos tudo o que o Vasco precisa para entrar neste negócio e quais as despesas de investimento inicial.
Desde logo, o primeiro elemento deste negócio é, obviamente, a viatura, sendo que o Vasco resolveu adquirir uma FIAT Ducato, de carroçaria furgão, usada. Em termos de modificações, é necessário colocar bancadas em inox, tratar do sistema elétrico, pintar, decorar e afins.
Na tabela abaixo é possível encontrar uma estimativa de todos os custos que o Vasco terá com a aquisição dos equipamentos e com a transformação do veículo:
Estimativa de custos iniciais | Food Truck | |
FIAT Ducato 30 MH2 Multijet (usado) | 15.000€ |
Placa de grelhar, forno e microondas | 3.500€ |
Sistema de Frio | 2.200€ |
Iluminação interior e instalação elétrica | 2.200€ |
Reforço de suspensão devido ao peso extra | 2.000€ |
Pintura e decoração | 1.500€ |
Sistema de água e reservatórios | 1.100€ |
Espaço adaptado para acomodação de alimentos | 600€ |
TOTAL | 28.100€ |
No total, conforme as estimativas de encargos recolhidas, o investimento inicial em equipamento pode rondar os 28 mil euros. Depois existem obviamente os custos com a manutenção do equipamento, mas, para começar, isto é tudo o que o Vasco precisa.
Em Portugal já existem empresas especializadas na conceção de food trucks, as quais facilitam todo o processo de modificação do veículo, pintura e decoração, disponibilizando ainda as bancadas em inox e o sistema elétrico e de refrigeração.
Optando por um crédito pessoal para pequenos negócios e solicitando os 28.100 euros de que precisa para fazer o investimento inicial, por um prazo de 72 meses, a mensalidade que o Vasco tem de pagar ao banco rondará os 535 euros, de acordo com as simulações que efetuámos.
Após financiar este investimento inicial, o Vasco precisará de passar pelo licenciamento obrigatório, que, no caso deste negócio, incide em duas vertentes: por um lado, o licenciamento aplicado à instalação de serviços de restauração e, por outro lado, o referente ao exercício da atividade de venda ambulante.
Acrescem ainda despesas anuais com seguros multirriscos para os equipamentos, de acidentes de trabalho para os colaboradores, automóvel e responsabilidade civil para exploração (setor alimentar).
Até 10 mil euros de investimento: o Tuk Tuk do Rodrigo
Já o Rodrigo, cinco anos mais novo do que o Vasco, formado em Psicologia e que trabalha na área de Recursos Humanos, com a sua habitual sociabilidade, sempre teve um gosto especial pela área do Turismo, especialmente no que toca ao contacto com pessoas de outras nacionalidades.
Foi por isso que lhe surgiu a ideia de ter o seu próprio Tuk Tuk personalizado com desenhos de azulejos tipicamente portugueses, para que pudesse mostrar aos turistas os recantos idílicos da Cidade Invicta. Para tal, precisaria, desde logo, da viatura.
A escolha foi uma Piaggio APE Calessino a diesel (usada), que custa 7 mil euros, e que teve de ser personalizada ao gosto do Rodrigo. Para além disso, teve de investir num sistema de comunicação wireless para poder comunicar com os seus clientes enquanto lhes apresenta os encantos da cidade.
Para divulgar os seus circuitos turísticos e os seus contactos, este jovem empreendedor precisou igualmente de criar um website apelativo, de distribuir press kits junto dos responsáveis dos hotéis da região para apresentar os seus serviços na esperança de estes o recomendarem aos seus hóspedes, para além de criar alguns materiais gráficos: Flyers para distribuição nos locais públicos do centro da cidade e folhetos informativos para entregar aos seus clientes com explicação dos diferentes percursos e pontos de interesse.
Na tabela abaixo pode observar-se a estimativa dos gastos iniciais deste jovem empreendedor, que naturalmente são significativamente mais reduzidos do que os de um food truck:
Estimativa de custos iniciais | Tuk Tuk | |
Piaggio APE Calessino diesel (usada) | 7.000€ |
Personalização e decoração do Tuk Tuk | 750€ |
Sistema de comunicação wireless (1 transmissor + 6 recetores) | 650€ |
Website | 550€ |
Press Kit para hotéis (50 unidades) | 350€ |
Flyers + Folhetos informativos (4000 unidades) | 200€ |
TOTAL | 9.500€ |
Para além do equipamento em si, são ainda necessários os seguros de acidentes pessoais, de responsabilidade civil e para motociclos. Ao nível do licenciamento, e por enquanto, é necessário proceder ao Registo Nacional dos Agentes de Animação Turística (RNAAT) junto do Turismo de Portugal.
Optando por um crédito pessoal para pequenos negócios e solicitando os 9.500 euros de que precisa para fazer o investimento inicial, por um prazo de 36 meses, a mensalidade que o Rodrigo tem de pagar ao banco rondará os 310 euros, de acordo com as nossas simulações.
Em jeito de conclusão, podem ser diversas as opções de financiamento para quem quer investir em pequenos negócios, desde o recurso aos business angels, passando pelos empréstimos P2P até ao microcrédito, culminando nos apoios estatais e nos empréstimos bancários para pequenos negócios.
Para fazer a escolha mais acerta, o segredo para o sucesso reside na avaliação de várias opções. Pedir orçamentos, informar-se devidamente sobre todo o procedimento legal, efetuar diversas simulações para seguros e financiamento são meio caminho andado para ser bem-sucedido num pequeno negócio no setor do Turismo, que tem a vantagem de ser atualmente uma área de atividade em forte crescimento.
É claro que, no entanto, esta é a parte “fácil”, sendo necessário adicionar à equação, para além da capacidade de fazer diferente e da visão de negócio, muito dedicação e trabalho.